A corrupção de farda do bolsonarismo

2023-08-21T12:28:51+00:00

Investigações sobre desvio de joias, envolvendo Bolsonaro, atingem também militares de alta patente

As investigações sobre Bolsonaro, conduzidas principalmente pelo STF, pela PF e pela CPMI dos Atos Golpistas, vêm revelando o envolvimento de vários militares de alta patente nos crimes praticados pelo ex-presidente de extrema direita.

Em uma das frentes de atuação, estas investigações vêm revelando a participação direta de vários oficiais do Exército em todo o processo de tentativa de anular as eleições presidenciais do ano passado e, posteriormente, de executar um golpe que impedisse a posse de Lula e mantivesse Bolsonaro no governo.

Nas investigações sobre as ações golpistas vem se destacando a troca de mensagens entre o tenente-coronel Mauro Cid e o coronel Lawand Júnior, revelando detalhes das tramas do golpe e o envolvimento de Bolsonaro nelas.

Entretanto, além das investigações sobre os planos golpistas, na semana passada, chamou a atenção uma nova operação da PF, que revelou o envolvimento de militares de alta patente em esquemas de corrupção ligados a Bolsonaro. O nome dado a esta operação da PF é bem sugestivo: “Lucas 12:2”. O nome se refere a um versículo bíblico que afirma: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.

Em destaque está o desvio de vários conjuntos de joias, presenteadas pela ditadura saudita ao ex-presidente, que, por lei, deveriam ser incorporados ao acervo da União, mas que foram apropriados indevidamente por Bolsonaro e também por sua esposa, Michele Bolsonaro.

Mas, a novidade da operação da semana passada não é tanto o desvio das joias, que já era de conhecimento público. Na verdade, o que veio a público agora foi um verdadeiro esquema montado a partir do desvio das joias, para vendê-las de forma criminosa nos EUA, com posterior repasse do dinheiro apurado com a falcatrua para o próprio Bolsonaro.

Para o sucesso do esquema de corrupção bolsonarista, o ex-presidente contou com a colaboração direta de vários militares de alta patente, entre eles o próprio tenente-coronel Mauro Cid, um general de 4 estrelas – Lorena Cid (pai de Mauro Cid) e o tenente Osmar Crivelatti, todos do Exército. Mas, o esquema envolveu também um Almirante de Esquadra da Marinha, Bento Albuquerque, ex-ministro de Bolsonaro, que liderou a comitiva que tentou entrar no Brasil, de forma irregular, com uma parte das joias sauditas. E um tenente da Marinha, Marcos Soeiro, que a mando de Albuquerque, tentou resgatar uma parte das joias que foram apreendidas pela Receita Federal. Além de aviões da FAB serem utilizados para transportar, de forma irregular, as joias desviadas. Até agora nenhum destes militares foram punidos ou afastados.

E não se pode esquecer, que durante o período mais duro da Pandemia da Covid-19, quando centenas de milhares de brasileiros perdiam suas vidas, foram denunciadas a compra de lotes de vacinas superfaturadas, além outros materiais hospitalares, especialmente durante o momento em que o general Eduardo Pazuello era o Ministro da Justiça de Bolsonaro. Vários militares, subordinados a Pazuello, são acusados diretamente pelas negociações fraudulentas. Pazuello nunca foi punido, e nem seus subordinados, e hoje é deputado federal pelo PL/RJ, partido de Bolsonaro.

O escândalo do desvio das joias só vem confirmar o que já se sabia antes: a chegada de um número recorde de militares de alta patente em postos chaves do governo passado, não garantiu um combate efetivo à corrupção, como prometeu o bolsonarismo. Mas, justo ao contrário, demonstra, mais uma vez, que a elite das forças armadas é campeã em envolvimento em casos de corrupção.

Na corrupção, o bolsonarismo repete a ditadura

A participação recorde de representantes da cúpula das forças armadas no governo Bolsonaro só serviu para desmoralizar parte dessas instituições perante a opinião pública brasileira, evidenciando seu caráter reacionário e corrupto.

Entretanto, o envolvimento da elite das forças armadas em casos de corrupção não é uma invenção do bolsonarismo. Neste quesito, a atual extrema direita brasileira apenas repete o que foi já feito pelos militares de alta patente durante o período da ditadura.

Muito diferente do que é frequentemente espalhado por Bolsonaro e pelos bolsonaristas, o período da ditadura militar brasileira foi um dos momentos da nossa histórica com mais incidência de casos de corrupção na política.

As fake news bolsonaristas se apoiam no fato de que no período da ditadura a fiscalização sobre a ação dos governantes era quase inexistente, a censura aplicada sobre a imprensa – além do apoio de boa parte da mídia empresarial ao regime – restringia a divulgação dos escândalos e havia ainda o medo de denunciar e ser alvo de perseguição, e até de assassinatos.

Casos de privilégios nababescos, enriquecimento ilícito, desvio de verbas em obras públicas, compra de políticos e militares por empreiteiras, contrabando, ligação ao tráfico de drogas, financiamento de bancos públicos a empresas privadas ligadas governantes, entre outros casos absurdos de corrupção, não foram situações isoladas, mas sim uma prática corriqueira durante o período da ditadura brasileira.

A elite das forças armadas não devem estar em postos de governo

A presença de representantes, diretos ou indiretos, da cúpula das forças armadas em postos chaves de governo e da administração pública é uma fonte permanente de ameaça ao regime democrático brasileiro. Além de ser uma evidente fonte de corrupção e desmandos.

Infelizmente, mesmo no atual governo, muitos militares de alta patente ainda seguem ocupando postos chaves em várias esferas da administração pública. Tanto o período da ditadura como do governo Bolsonaro, já deveriam ser suficientes para demonstrar nitidamente a necessidade de impedir o acesso da elite das forças armadas a cargos políticos. É urgente a criação de uma legislação que avance nesse sentido.

E, da mesma forma, a tarefa de desbolsonarizar as instituições brasileiras ainda não foi cumprida de fato. O fato de Mauro Cid receber mensagens eletrônicas de 3 militares do GSI, já no atual governo, com a agenda de viagens do presidente Lula, só vem evidenciar a gravidade deste problema.

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